Pais de aluno atacado em escola de Fortaleza buscam responsabilização ‘para evitar que violência se repita’
Pais de aluno atacado em escola de Fortaleza buscam responsabilização ‘para evitar que violência se repita’
Ter a vida impactada por uma violência extrema que não pode ser ignorada sob risco de que, negligenciada, siga fazendo mais vítimas. Passados 3 dias do ataque ocorrido no Colégio Christus, uma escola particular em Fortaleza-CE, no qual um aluno feriu outro estudante e dois profissionais da instituição, o adolescente atingido segue em recuperação em casa.
A família, também em processo de reconstrução, defende a responsabilização das diversas partes no caso, já que, avalia a mãe que não será identificada para preservar a identidade do estudante “hoje, tá tão banal a violência e omissões podem repercutir em outros grupos”.
Na tarde da quinta-feira dia 04 de dezembro 2025, uma equipe do Diário do Nordeste esteve na residência da família e ouviu a mãe, o pai e o irmão do adolescente ferido. A decisão de não identificá-los busca preservar a integridade dos familiares e, sobretudo, resguardar a identidade do próprio adolescente, vítima de uma ação violenta e traumática.
Pelo mesmo motivo, o jornal, também, durante toda a cobertura do caso, optou por não narrar de forma detalhada os atos de violência vivenciados pelas vítimas, considerando os possíveis efeitos negativos e a baixa contribuição social que a exposição minuciosa desse tipo de conteúdo pode provocar.
Nesta quinta-feira dia 04 de dezembro 2025, a família, que ao longo da entrevista reiterou estar comovida, disse à reportagem que, no momento, não há definição de como se dará o desfecho do ano letivo ou mesmo de como será o futuro escolar do estudante ferido. A ênfase agora, destacam, é garantir amparo, aconchego e acolhimento ao adolescente, que segue se restabelecendo na própria residência.
“O foco é cuidar da saúde do meu filho. Nesta sexta-feira dia 05 de dezembro 2025,vem uma psicóloga aqui porque ele é um garoto jovem e passar pelo que ele passou não é fácil”, disse o pai, que se emocionou em alguns momentos da entrevista. A família também reforça que não havia conflitos anteriores entre os adolescentes envolvidos na ação, e a vítima, sequer, conhecia o adolescente que o atacou.
O jovem, apesar dos ferimentos, não teve nenhum órgão vital atingido, e é descrito pela família como uma pessoa tranquila, tímida e caseira. Ele estuda na mesma escola desde a infância. A instituição é considerada de elite, com mensalidades elevadas, o que, segundo os pais, reforça a expectativa por melhores condições de segurança e monitoramento. Para eles, o alto custo, inclusive, deveria garantir um nível proporcional de estrutura e proteção, o que a situação, avaliam, revelou não ser a realidade.
Responsabilidade de todos:
Nesse processo, a família manifesta receio de que o ataque na escola seja “banalizado” como mais um caso, ainda que essas situações sejam sempre assustadoras, trágicas e mobilizem a sociedade. O medo, ponderam, é de “cair no esquecimento”, com o passar dos meses, e que essa banalização mais à frente se reflita em novas violências em outras instituições e redes escolares.
Por isso, apontam, é preciso cobrar a responsabilização do adolescente agressor, do colégio, mas também reforçar o papel das famílias, e avançar no que precisa ser feito coletivamente, como sociedade, para que situações traumáticas como a vivenciada no colégio não voltem a ocorrer.
“Se o que aconteceu conosco, com um adolescente de classe média alta, que é de uma escola particular, puder repercutir a favor de todas as crianças e adolescentes, seja de escola pública ou particular, já vai nos ajudar. Porque o que acontece em diversas escolas, e é silenciado ou é ignorado, agora está chegando 'no mundo de quem tem poder', tá chegando na escola particular. E não vai parar porque a sociedade está doente, os pais estão doentes”.
Mãe do adolescente ferido em ataque em escola particular de Fortaleza
Para ela, a esperança é que o fato siga tendo repercussão de modo a provocar ações concretas e mudanças de comportamentos e posturas.
“Hoje, tá tão banal a violência e omissões podem repercutir em outros grupos. É uma obrigação até social nossa de não deixar que isso aconteça", reitera a mãe. O casal também chama atenção para a necessidade de as famílias assumirem a responsabilidade na formação de crianças e adolescentes, de modo a não transferir para as escolas o papel de 'criar os filhos'”.
Já o pai do estudante ferido pondera que "não adianta só você dar o material se você não dá a criação. Porque, senão, o que vai ser desse ser humano?”. Em outro momento, aponta: “A violência hoje ela não tem casta, não tem limites, ela está em todos os lugares e precisa ser levada a sério”.
Sobre os encaminhamentos práticos do processo de investigação, o advogado da família, Leonardo Borges, aponta que “eles vão tomar providências na esfera criminal e cível”. Ele também indica que ambos os adolescentes envolvidos na ação violenta já foram ouvidos pela Polícia. O adolescente que cometeu a violência, segundo ele, segue apreendido, e a busca é que ele seja responsabilizado no rigor da lei e cumpra o que for estabelecido pela Justiça.
Na entrevista também foi relatado que, até a tarde de quinta-feira, nenhum contato havia sido feito entre as famílias dos adolescentes envolvidos na ocorrência.
Suporte institucional:
A família do aluno atacado também avalia que o suporte institucional por parte do colégio tem se mostrado frágil, embora “seja ainda muito cedo para eu dizer qualquer coisa”, conforme avalia o pai. “Me deram uma assistência imediata no dia (da ocorrência)”, aponta e completa que representantes da escola estiveram nos hospitais nos quais o estudante foi atendido, e uma ligação foi realizada pela escola no dia seguinte.
Porém, avaliam que falta uma presença institucional mais firme e contundente que, minimamente, tenha conexão com a gravidade da violência sofrida.
Outro ponto de ausência, no cenário da vida escolar, refletem os pais, são debates propriamente relacionados à violência. “Não há abordagens sobre isso”, destaca o irmão da vítima que também estudou na mesma escola, e acrescenta: “Não temos orientação de como conviver e sabemos muito sobre a pressão (de passar na universidade). Falta muito suporte que precisa ser trabalhado. Além da questão da segurança em si”.
Na escola, afirma a mãe, nenhum dos filhos, no decorrer de toda a vida escolar, chegou a ter contato com psicólogos da própria unidade. “Nunca nem foram atendidos”, relata, destacando que “psicólogos precisam ser para todos”.
O Diário do Nordeste tentou contato com o Colégio Christus, também na quinta-feira, por meio do e-mail fornecido para atendimento das demandas da imprensa, mas não obteve resposta. Na demanda, a reportagem apontou as queixas relatadas pela família, questionou sobre as ausências mencionadas e indagou sobre a condição de saúde dos profissionais da escola, também vítimas na ação violenta. Nenhuma resposta foi enviada até a publicação desta matéria.
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